segunda-feira, 27 de julho de 2020

Damaged

You're not broken and in need of fixing.
You're wounded and in need of healing.

Estou triste. Sinto réplicas de tristeza desde que, mais uma vez, me confirmaram que estou avariada.
No inicio do ano peguei em toda a coragem e medo que tinha e marquei consulta com a endocrinologista. Mal sabia eu que a ia adorar. Dos mil exames que me pediu, confimei pela primeira vez: Sindrome de Hashimoto. É mais bonito chamar-lhe sindrome porque não se sabe a sua causa. Uma vez que é uma avaria permanente, só atenuada com medicação.
Como a medicação me deixa menos ansiosa, achei que devia contactar uma psicologa e tentar recuperar alguma sanidade mental. Percebi que não me ia ser tirada a minha motivação profissional, a minha âmbição nem a minha sede de ser melhor (que eu própria). Não giro uma equipa, nem sei se tenho coração para isso. Mas gosto de lhes deixar mensagens positivas, de apoio, e que consigam sempre ver ou aprender alguma coisa de positivo numa situação menos boa, mais stressante, de mais desafios. Não queria deixar e ser eu, por eles. E correu bem. Há-de continuar a correr bem.
E talvez tenha sido pelo melhor, ainda não ter lá voltado.
Não tivessem sido os primeiros exames, e não tinha percebido que podia ter SOP.
Não vou explicar-vos o que é. É mais um sindrome e estou pelos cabelos com a pergunta sem noção de "mas e podes engravidar?".
No sábado confirmaram-me novamente outra avaria. Outra sem arranjo. Há medicação, para tomar numa altura especifica, e todas as consequências e tudo o que posso fazer para não piorar inclui exercicio, alimentação e, sobretudo não engordar que nem uma lontra. Basicamente volta tudo ao ralo do meu peso. De não me sentir feliz, de não conseguir conformar-me com o que tenho.
Mas sinto-me bem. Não tenho dores, o meu humor não varia tão rápido. Estou dependente de um pequeno comprimido que tenho de saber o nome e a dosagem. Que sei o nome em vários paises, caso precise de o comprar lá fora. Estou refém de um sindrome (na verdade dois) que não sei como começaram, mas sei que nunca vão acabar.
Sinto-me avariada, estragada e por momentos sem alma.
Viajo um pouco ao sabor do que cada dia tem para dar, porque não sei qual é o próximo problema. Com tanta pressão sobre o tema engravidar, os meus 2 cêntimos vão para Bipolaridade ou Esquisofrenia. Revejo-me perfeitamente em qualquer uma delas. Em mais qualquer uma avaria que este corpo queira agarrar. Vivo no limite da ansiedade de saber a verdade sobre o próximo problema com que me vou deparar. E choro por dentro, hoje mais um bocadinho, por, ao contrário de toda a merda sem problemas nenhuns que por ai anda, eu vou acumulando defeitos, sem reparação permanente.
Abracei a Hashimoto como se de um amigo se tratasse já que me vai acompanhar para a vida. Sem perceber que me tem vindo a destruir aos poucos. Ou tivesse sido a falta de medo e a presença de coragem para enfrentar a verdade, mais cedo do que o fiz, e havia de ter sido tudo diferente. Tudo melhor. Com menos acumulação de avarias e defeitos.
Um dia passo a conta, ao criador destas avarias. Que o problema disto, não é o peso na carteira, mas o aperto no coração de viver, todos os dias, a saber que estou avariada.

quarta-feira, 22 de julho de 2020

Uninstall Shitty Software

Há tempos, um pequeno software humano que faz a esperança média de vida aumentar comenta com tristeza que a a minha barriga nunca mais cresce. Respondi-lhe educadamente que não tenho o dom e que tivemos muitas despesas com a casa. Ao que aquele programa obsoleto responde "não precisam de mais coisas para limpar".
Quem me conhece, sabe que sempre tive complexos e problemas com este corpo que me escolheu.
Quem me conhece, sabe como me sinto pressionada pelas regras sociais, pelos estereótipos e modelos socialmente aceites de beleza.
Não vou ao tópico das máquinas de lançar crianças, tipo canhão a lançar bombas. Somos parideiras para as mentes fechadas, obsoletas e que pararam no tempo. Não temos mais opção senão ser mães.
Sempre fui mais para o cheio e isso sempre me deixou muito triste. Ironia das ironias, uma das pessoas que me fazia bullying e me chamava epicentro, hoje é psicóloga. Pergunto-me como ajuda os seus pacientes com o mesmo problema. Eu cá gostava de um pedido de desculpas, mas quem sou eu!
Não me sinto nada confortável por não ser uma Barbie, e isso deixa-me triste. Tenho uma Barbie gordinha para me lembrar que está tudo bem! É parvo, mas sabe Deus o que passa por esta massa cinzenta.
Voltando ao dito software que deve anos à casa. Continuo a ter vontade de o partir. De o mandar à merda e atirar pela janela. Acalmei-me da primeira vez, como faço no trabalho.
Estes dias, comenta que o meu carro tem duas portas. Revirei os olhos e fui parva. Sei lá, na verdade estava com vontade de a atirar pela janela.
Continuo secretamente à espera de desinstalarem o software. Não de mim, claro. Já não vão haver updates ali. Nem fixes (arranjos) nem nada que se pareça. Aliás, nem um drop database ali deve funcionar, tal não é a idade do software. Estás latas velhas só querem que sejamos uma porta USB pronta a receber dados e a instalar software que podemos nem querer.
Já vos informei que talvez tenha levado com um update de SOP? Estou cheia de medo, mas a pergunta que todos os softwares alheios fazem é: podes ter filhos não é?
É. Também posso morrer. Mas está tudo bem.
Tenho um plano para evitar este software arcaico. Vou passar o Natal e épocas festivas para COBOL... Isto é, quando era moda, eu nem existia! Agora já ninguém o vê, e para verem tem de pagar bem. Pronto. Pretendo não ir às festas de natal, e para me verem, tem de me pagar bem!  E txaran! Problema resolvido!
Agora que desabafei, sejam pessoas disponíveis a crescer, a sair da vossa zona de conforto. Não sejam mentes quadradas, não pensem nos vossos apenas nos vossos desejos, quando toca a outra pessoa.
Ela pode estar a passar uma guerra que vocês não fazem ideia, e vão apenas colocar-lhe mais sofrimento... Por favor!