segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Repetições

Não repito coisas. Acções.
Por norma não as repito porque algo correu mal, porque, a maioria das vezes, alguém morreu.
Deixei de marcar a aula de body balance aos sábados de manhã. Com medo de adormecer e ter o telemóvel cheio de chamadas.
Tento não beber café ao domingo à noite. Não que não queira dormir, mas com um medo horrível de voltar a receber uma mensagem que não consigo perceber. De uma mensagem que li vezes sem conta, e entretanto a perdi noutro telemóvel, e que não compreendi no momento o que se passava.
Tenho medo que morram pessoas que gosto, se repetir as mesmas acções, as mesmas frases, os mesmos costumes. E altero coisas na esperança de que o que já não pode ser mudado, volte a acontecer.
Sou estranha eu sei.
Mas não me importo nada com isso!

segunda-feira, 27 de julho de 2020

Damaged

You're not broken and in need of fixing.
You're wounded and in need of healing.

Estou triste. Sinto réplicas de tristeza desde que, mais uma vez, me confirmaram que estou avariada.
No inicio do ano peguei em toda a coragem e medo que tinha e marquei consulta com a endocrinologista. Mal sabia eu que a ia adorar. Dos mil exames que me pediu, confimei pela primeira vez: Sindrome de Hashimoto. É mais bonito chamar-lhe sindrome porque não se sabe a sua causa. Uma vez que é uma avaria permanente, só atenuada com medicação.
Como a medicação me deixa menos ansiosa, achei que devia contactar uma psicologa e tentar recuperar alguma sanidade mental. Percebi que não me ia ser tirada a minha motivação profissional, a minha âmbição nem a minha sede de ser melhor (que eu própria). Não giro uma equipa, nem sei se tenho coração para isso. Mas gosto de lhes deixar mensagens positivas, de apoio, e que consigam sempre ver ou aprender alguma coisa de positivo numa situação menos boa, mais stressante, de mais desafios. Não queria deixar e ser eu, por eles. E correu bem. Há-de continuar a correr bem.
E talvez tenha sido pelo melhor, ainda não ter lá voltado.
Não tivessem sido os primeiros exames, e não tinha percebido que podia ter SOP.
Não vou explicar-vos o que é. É mais um sindrome e estou pelos cabelos com a pergunta sem noção de "mas e podes engravidar?".
No sábado confirmaram-me novamente outra avaria. Outra sem arranjo. Há medicação, para tomar numa altura especifica, e todas as consequências e tudo o que posso fazer para não piorar inclui exercicio, alimentação e, sobretudo não engordar que nem uma lontra. Basicamente volta tudo ao ralo do meu peso. De não me sentir feliz, de não conseguir conformar-me com o que tenho.
Mas sinto-me bem. Não tenho dores, o meu humor não varia tão rápido. Estou dependente de um pequeno comprimido que tenho de saber o nome e a dosagem. Que sei o nome em vários paises, caso precise de o comprar lá fora. Estou refém de um sindrome (na verdade dois) que não sei como começaram, mas sei que nunca vão acabar.
Sinto-me avariada, estragada e por momentos sem alma.
Viajo um pouco ao sabor do que cada dia tem para dar, porque não sei qual é o próximo problema. Com tanta pressão sobre o tema engravidar, os meus 2 cêntimos vão para Bipolaridade ou Esquisofrenia. Revejo-me perfeitamente em qualquer uma delas. Em mais qualquer uma avaria que este corpo queira agarrar. Vivo no limite da ansiedade de saber a verdade sobre o próximo problema com que me vou deparar. E choro por dentro, hoje mais um bocadinho, por, ao contrário de toda a merda sem problemas nenhuns que por ai anda, eu vou acumulando defeitos, sem reparação permanente.
Abracei a Hashimoto como se de um amigo se tratasse já que me vai acompanhar para a vida. Sem perceber que me tem vindo a destruir aos poucos. Ou tivesse sido a falta de medo e a presença de coragem para enfrentar a verdade, mais cedo do que o fiz, e havia de ter sido tudo diferente. Tudo melhor. Com menos acumulação de avarias e defeitos.
Um dia passo a conta, ao criador destas avarias. Que o problema disto, não é o peso na carteira, mas o aperto no coração de viver, todos os dias, a saber que estou avariada.

quarta-feira, 22 de julho de 2020

Uninstall Shitty Software

Há tempos, um pequeno software humano que faz a esperança média de vida aumentar comenta com tristeza que a a minha barriga nunca mais cresce. Respondi-lhe educadamente que não tenho o dom e que tivemos muitas despesas com a casa. Ao que aquele programa obsoleto responde "não precisam de mais coisas para limpar".
Quem me conhece, sabe que sempre tive complexos e problemas com este corpo que me escolheu.
Quem me conhece, sabe como me sinto pressionada pelas regras sociais, pelos estereótipos e modelos socialmente aceites de beleza.
Não vou ao tópico das máquinas de lançar crianças, tipo canhão a lançar bombas. Somos parideiras para as mentes fechadas, obsoletas e que pararam no tempo. Não temos mais opção senão ser mães.
Sempre fui mais para o cheio e isso sempre me deixou muito triste. Ironia das ironias, uma das pessoas que me fazia bullying e me chamava epicentro, hoje é psicóloga. Pergunto-me como ajuda os seus pacientes com o mesmo problema. Eu cá gostava de um pedido de desculpas, mas quem sou eu!
Não me sinto nada confortável por não ser uma Barbie, e isso deixa-me triste. Tenho uma Barbie gordinha para me lembrar que está tudo bem! É parvo, mas sabe Deus o que passa por esta massa cinzenta.
Voltando ao dito software que deve anos à casa. Continuo a ter vontade de o partir. De o mandar à merda e atirar pela janela. Acalmei-me da primeira vez, como faço no trabalho.
Estes dias, comenta que o meu carro tem duas portas. Revirei os olhos e fui parva. Sei lá, na verdade estava com vontade de a atirar pela janela.
Continuo secretamente à espera de desinstalarem o software. Não de mim, claro. Já não vão haver updates ali. Nem fixes (arranjos) nem nada que se pareça. Aliás, nem um drop database ali deve funcionar, tal não é a idade do software. Estás latas velhas só querem que sejamos uma porta USB pronta a receber dados e a instalar software que podemos nem querer.
Já vos informei que talvez tenha levado com um update de SOP? Estou cheia de medo, mas a pergunta que todos os softwares alheios fazem é: podes ter filhos não é?
É. Também posso morrer. Mas está tudo bem.
Tenho um plano para evitar este software arcaico. Vou passar o Natal e épocas festivas para COBOL... Isto é, quando era moda, eu nem existia! Agora já ninguém o vê, e para verem tem de pagar bem. Pronto. Pretendo não ir às festas de natal, e para me verem, tem de me pagar bem!  E txaran! Problema resolvido!
Agora que desabafei, sejam pessoas disponíveis a crescer, a sair da vossa zona de conforto. Não sejam mentes quadradas, não pensem nos vossos apenas nos vossos desejos, quando toca a outra pessoa.
Ela pode estar a passar uma guerra que vocês não fazem ideia, e vão apenas colocar-lhe mais sofrimento... Por favor!

domingo, 28 de junho de 2020

PA

Somos pessoas normais,
Que vivemos vidas normais.
Que temos momentos de felicidade,
Momentos Banais.
E que somos abalroados e sacudidos brutalmente desta banalidade
Em dias como o que te foste embora.
Decidiste que chegou a hora,
E nem disseste adeus.
Não que as nossas vidas banais,
De comuns mortais
Se tivessem voltado a encontrar.
Mas não é preciso o convivio constante,
O estar presente a cada instante,
Para saber que se gosta.
Não no sentido de amar,
Mas de sentir respeito
De transmitir amor,
De desejar felicidade,
Talvez até partilhar a dor.
Foi isto que fiz,
Ao longo deste anos
Sem nunca mais te falar,
e que agora recolho os danos.

E se dói.
Doi muito.

Dói como se me queimassem os olhos.
Como se me arrancassem a pele aos molhos,
Esta pele que eu nunca quis.
Todos os dias passo lá,
Todos os dias lá passo para ir para o trabalho,
Trabalho esse que ainda mal começou,
E começou contigo a ir embora, c******...
E todos os dias olho o penso,
Todos os dias espero e rezo,
Para que nada disto seja verdade,
Que estejamos os dois a rir no café,
A rir de coisas que temos saudade.
E próximo do dia das bolas
Aperta ainda mais o coração
Desta estúpida e sem noção,
Que não quer acreditar que te foste embora,
Que escolheste a tua hora,
E nos deixaste sem chão.

--
Onde quer que estejas, espero que me perdoes por nunca ter enviado uma mensagem a saber de ti, a marcar o café. De vez em quando lembrava-me de ti e desejava que fosses ainda mais feliz do que eu esperava que fosses.
Não percebi bem quando foste. Não percebi bem porque quando li a mensagem não pensei em ti. Não percebi. Não era isto que eu tinha desejado para ti.
Desculpa não ter ido à tua despedida, mas quero lembrar-te para sempre cum um corta vento azulado, sempre com um sorriso e com o cabelo meio despenteado. Quando me disseste qual o teu dia de aniversário com a comparação mais estapafurdia do mundo. Que nunca mais me ia esquecer. E não esqueci.
Não me consigo perdoar por, já nesta casa, ter pensado em falar contigo e saber como estavas e nunca o fiz. Vou levar isto comigo, até que um dia, daqui a muitos muitos anos te encontre e me possas perdoar.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Filhos, mas de nós ninguém quer saber

Escrevo as letras e apago mal a frase termina.
Gostava de poder ser livre de tomar a decisão que me apetecer sem pressas e sem pressão.
Gostava de poder sentir um sinal, de sentir um chamamento, um dom.
Gostava que a cada palavra Maternidade, mãe, filhos ou gravidez, eu não fosse atirada para um buraco cheio de gente com opiniões, sempre com as mesmas frases, as mesmas deixas.
Mas não. Todos os primeiros pensamentos são no futuro, numa decisão que não cabe a ninguém senão a mim.
Não sei se quero filhos, mas não quero ser pressionada a tê-los.
Não sei se quero filhos e que me os estejam sempre a impingir, independentemente do meu estado de saúde.
Não sei se quero filhos e que mos obriguem a ter, se, afinal, por todas as decisões que me trouxeram até aqui, a vida me tenha estragado por dentro, que a confusão e desorganização se calem através da medicação.
Ninguém quer saber.
Ninguém que saber de nada senão quando vais parir.
Como se fossemos puras máquinas de fazer seres humanos.
Com botões, de ligar e desligar, cujo botão de desligar apenas pode ser activo quanto tiveres dois filhos. Um marido. Uma casa. Um carro ridículo, para levares a filharada.
Ninguém quer saber de como estás. Ninguém se importa.
Arrastam-te um tema até que tenhas de perder o respeito, que tenhas de perder a razão, porque não quiseram ouvir. Porque não souberam ouvir.
Sinto-me como se tivesse 70 anos e atrasada. Atrasada em tudo. Atrasada na vida, sem estar casada, sem filhos. Sem carro, sem casa.
Como se todo o trabalho e progresso que tivesse atingido profissionalmente fosse incomparavelmente inferior e sem nenhum valor, perante o valor maior que, acham, é a maternidade.
O problema senhores? O problema?
O problema é que estou podre. Sou podre. Deixaram-me podre.
E não quero por ao mundo uma criança minada de bem e podridão. De problemas. De memórias que não lhe correspondem. Isto se puder.
Hoje em dia é tão fácil por filhos ao mundo a quem se está literalmente a marimbar e do outro lado da balança, os que se importam, os que podem, os que amam, os que estão preparados, os que conseguem... Lutam por poder ter alguém com quem partilhar o amor, as palavras, os dias, a vida.
Mas não.
Para esses, a pressão deve ser desmesurada, descomunal.
Horrível ao ponto do desespero.
E vocês senhores? Vocês sem se enxergarem e tomarem um pouco de vergonha na cara, pela dor que causam sem saber. Não custa nada calar. Não falar do tema. Porque a vida nem é vossa.
É nossa.
E na puta da minha casa, mandamos nós. E não vocês.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Se tens mesmo de ir...

Eras das minhas pessoas preferidas. Não me interpretes mal! Ainda és! Mas deixaste de ser a mais. A mais preferida, a mais segura, a mais confiante, a que a palavra contava mais. A tua opinião ainda conta, as tuas palavras ainda fazem sentido e não deixas de ser tu que me ajudou a ser melhor. Porque já sou melhor. Já estou melhor. Já me sinto melhor, em paz.
Não aches que deixar-te ir me vai ser fácil, porque não vai. Mesmo que não sejas a mais importante, contínuas a ser importante, contínuas a ser tu, contínuas a ter muito valor. Custa-me esta indecisão enquanto não vais. Não percebo se consigo de facto ser melhor sem ti. Sem ter de esperar por uma aprovação tua, para uma palavra tua. Assusta-me de morte escolher deixar-te ir, ainda que saiba que vais ser mais feliz, mas aterroriza-me ficar sem o teu apoio. Quero quer sejas feliz, mas sou um demónio egoísta que só pensa em mim. Queria que as coisas fossem mais fáceis. Queria poder ver o que vai acontecer de mim sem estar sempre a contar com os teus conselhos. Não consigo decidir-me e não sei quem pode tomar esta decisão por mim. Queria poder confiar esta decisão noutros, mas no final, sei sempre que vai estar em mim. Desculpa-me se escolher mal, mas obrigada por me teres ajudado a ser uma melhor edição de mim!

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Cansei

Cansei-me de indirectas, de bocas. De pessoas más. De pessoas que só querem mimo e atenção. Cansei-me de pessoas de merda que preferem que eu chore pelo menos bom, do que agradeça pelo pouco e tão bom que tenho. De pessoas que adoram arrancar-me a felicidade, seja de que maneira for!
Não era isso que queria para mim...
No meio deste cansaço todo, encontro e reencontro pessoas, todos os dias, que são apenas isso. Meras pessoas que erram, mas que são mais do que toda a sorte do mundo por me deixarem estar na vida delas. E por deixarem que elas sejam parte de mim. Há já tanta gente boa que tenho conhecido nestes últimos meses, tão de qualidade como os que conto pelas mãos. Que seja assim sempre! Obrigada por fazerem da minha pequena felicidade, toda a felicidade do mundo!