terça-feira, 12 de outubro de 2010

Era

Era uma vez.
Era uma vez uma vida cheia de nadas.
Era uma vez uma vida cheia de nadas e coisa nenhuma.
Era uma vez uma vida que depende de várias vidas. Vidas que ama, que sorriem, que riem. Vidas que choram e partilham. Vidas que não são mais que meras vidas, neste mundo cheio de vida e vitalidade, vidas que afinal de contas merecem ser vividas.
Era uma vez, uma vida. A minha. Cheia de gente alegre, de pessoas boas, de ombros amigos. Era uma vez a minha vida. Cheia de sonho, de amores, de esperanças, de cor e alegria. E era uma vez todos os que a conseguem destruir. Todos os que passam por mim e me beijam e abraçam, que me engolem e trespassam. Era uma vez todos esses que odeio. Por quem sinto o sentimento mais repugnante, que alguma vez na vida consiga descrever. Era uma vez, uma vida que joga vidas, e com elas vai vivendo dentro de um jogo, onde avança e recua peças, onde faz cheque-mate. Essa vida não é Deus, nem nunca será. Essa é apenas mais uma vida que destrói vidas, que as consome e não liberta. Mais uma entre outras vidas que criam sentimentos e roubam vida a outras vidas.
Era uma vez, uma vida perfeita. Perfeita em todos os sentidos. Perfeita em sonhos e em realidade. Cheia de verdade e amor. Cheia de amigos, de calor, de cor, de intensidade.
Era uma vez uma vida cheia e plena.
Era uma vez uma vida cheia de raiva. E era uma vez outra vida cheia de inveja e rancor. Cheia de mentiras, de interesse. Era uma vez gente que não sabe o que é, não sabe o que sente, não sabe o que quer, não sabe o que diz. E era uma vez essa mesma gente destruir tudo o que tenho. Era uma vez essa gente tentar. Era uma vez. Uma. Uma única e singela vez. Uma única e pequena tentativa.
Era uma vez, alguém que dizia que Deus escreve direito por linhas tortas, e era uma vez esse Deus tornar direitas as palavras, nas linhas que teimam em entortar. Era só uma vez, em que todos havemos de comer as nozes para as quais não temos dentes.
E era só uma vez, só mais uma, e apenas uma, uma vez que todos os erros se vão cometer, e todas as desculpas serão perdoadas. Só uma vez. Só mais uma vez, essa vez que era uma.