quarta-feira, 4 de maio de 2011

Alma

Conta-me algo que ainda não saiba.
Que me amas.
Que me amas mais que a ti mesmo.
Que me amas mais que a ti mesmo, até ao fim da tua vida,
E que me odeias.
Que não me suportas, que não me ouves e não me consegues falar.
Que odeias quando respiro.
Que odeias quando falo.
Que odeias quando falo, quando falo muito ou quando falo muito pouco.
Porque me amas ou odeias, é razão que desconheço.
Porque não te é o meu amor suficiente?
Porque?
Porque te amo demais?
Porque o meu amor não cura? Não te toca?
Porque o meu amor é louco e cego? E tu não te deixas embalar nesta cega loucura?
Que tens tu, que não te deixa viver? Que não te deixa ser tu?
Que és tu afinal, quando choras noutro colo que não é o meu?
Quem sou eu afinal, alguém que afinal amas?
A página de um novo capitulo, que não consegues escrever?
Ou umas pequenas anotações de um capitulo que não queres fechar?
Que não deixas fechar?
Aquele que não mexes, mas que também não consegues falar?
É isso não é?
Não és capaz de virar a página.
De encarar o que aconteceu.
De amar de alma, coração e corpo, este corpo que há-de não ser meu um dia.
É isso.... Não é?
Porque enquanto a água quente de molha o corpo, as lágrimas frias gelam-te a alma. E tu permites. Deixas que te agarrem. Que te levem. Como as tuas delicadas mãos não são suficientemente grandes, sentas-te e choras. Choras ainda mais. Sozinho, e desprotegido, enquanto a água, como a vida, passa por ti. Limpa-te sem que tu deixes, e purifica-te. Mas tu não queres. Não queres lembrar-te e não queres esquecer-te. Porque a água corre para o mar, e tu lembras-te! Então encolhes-te ainda mais e choras. Porque nunca te vais esquecer. Nunca te vais esquecer.
E encolhes-te ainda mais, até não poderes mais. E choras. Choras até ao fim do esquecimento. No teu canto. No teu espaço. Na tua caixa. Na tua memória guardada e selada. Enterrada! Mas no final, tu tens medo de esquecer e avançar. Mas ninguém quer que esqueças. Apenas que lembres. Que te lembres muito e muitas vezes. Todos os dias. Quero que te lembres hoje e sempre, não da dor, mas da alegria de viver.

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